AINDA BEM QUE ACABOU O NATAL

Por Nosly Mel.

Nunca gostei. Acho essa data muito melancólica e recheada de hipocrisia. Uma data inventada pro consumo desenfreado onde mais importa o status, o lucro desenfreado do que o verdadeiro significado da palavra natal.

Uma criança hoje em dia se chegar no papai noel com uma cartinha é bem capaz dela ouvir dele que só aceita cartão! Gente que está há anos no meu face, nunca interagiu comigo, nunca sequer me deu um bom dia na rua, muitos viram até a cara pra não te cumprimentar e daí chega no dia 24 vem te desejar Feliz Natal e pedir que Deus me abençoe! Ora vá….. Não preciso dos votos de gente hipócrita pra eu me sentir bem comigo mesma e com meus próximos (que são pouquíssimos). Parece que nesse dia, todos esquecem que mentiu, que enganou, que trapaceou, que discriminou, que alijou, que iludiu, que desrespeitou e do nada SHAZAAAM!!! Viram pessoas bondosas, que ama todo mundo! Por que temos que ser “bonzinhos” com os outros somente no natal? Por que não sermos bons com os outros o ano todo? Daí começa aquele ritual horrendo e mecânico de mandar mensagens (melancólicas) printadas da net via whatsaap, pra ver se você fica emocionada e recompensada, tipo uma expiação dos seus pecados! Como se uma simples print de natal copiada da net pudesse apagar toda a indiferença que te impingiram no ano todo Fico enojada isso sim! Porque sei que no dia 26 todos esquecem da “bondade” e voltam a ser os mesmos de antes! Vade retro! Não preciso de vocês!

No meu natal sempre aparece aquele parente que quer botar sua sexualidade e sua identidade na roda! Aquela “irmã” que diz que nunca vai te tratar no feminino dizendo até que eu posso até processá-la, mas ela jamais vai me reconhecer, porque não nasci vaginada! Os Deuses dela devem ser o pênis e a vagina, só pode! Tem parente te tratando no masculino em cada 5 minutos e pedindo desculpas em seguida, dizendo que ainda não se acostumou (Detalhe: tem mais de 30 anos que assumi minha transfeminilidade). Quando tempo será que precisa a “acostumar” a me respeitar? Pessoas trans são tão abjetas pra eles, que nem acham que somos dignos de respeito! Você mal acaba de cumprimentar o tal parente e já em seguida tem que corrigi-lo que prefere ser tratada no feminino, por que sou MULHER, trans e ainda sim MULHER! Passo o natal todo sendo pedagoga de parente! Como relaxar e curtir a ceia? Me diz?! Impossível!

Para nós mulheres trans, o natal quase sempre é sinônimo de tristeza, geralmente por causa dos familiares. Quando passamos o natal longe deles, não é porque queremos, na verdade a maioria de nós somos expulsas de casa assim que revelamos nossa transfeminilidade! E assim passamos a data com os amigos! E quando estamos com eles a noite do dia 24 passa mais suave e bem menos melancólica! Afinal depois do vinho e da ceia tem sempre uma baladinha com um som da Gaga, da Anitta, da Pablo Vittar, da Linn da Quebrada, das Bahias e a Cozinha Mineira, da Pitty disponível pra gente curtir e expurgar os demônios e assim relaxar! Nós Mulheres trans temos facilidade em transmutar as adversidades numa abençoada técnica de sobrevivência! Segue o baile!

Imagem: Fabio Rodrigues/G1. LGBTs excluídos do convívio familiar se reúnem para ceia de Natal: ‘Acolhedor’.


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