Aviso: Este documento foi feito após no encerramento do ST do Transfeminismo ocorrido no Seminário Internacional Fazendo Gênero 10, em virtude de algumas questões que surgiram durante o referido Seminário. Solicitou-se que tal carta fosse lida no evento de encerramento do Seminário, o que por motivos desconhecidos não ocorreu.
Nós, participantes do pioneiro Simpósio Temático “Feminismo Transgênero e Transfeminismo”, realizado durante o Seminário Internacional Fazendo Gênero 10 – Desafios Atuais dos Feminismos (FG10), como coletivo auto-organizado e orientado pela agenda transfeminista, discutimos e aprovamos a presente Carta Aberta “Transfeminismo Fazendo Gênero” à comunidade universitária, participantes do evento e, em especial, à organização do Seminário, composta pelo Centro de Filosofia e Ciências Humanas e pelo Centro de Comunicação e Expressão da Universidade Federal de Santa Catarina e pelo Centro de Ciências Humanas e da Educação da Universidade do Estado de Santa Catarina.
Reconhecemos a importância da inclusão da teoria e da ação transfeminista na pauta de discussões deste Seminário de impacto internacional, com repercussões estruturais e incontornáveis nos feminismos contemporâneos; nos debates sobre as condições das mulheres e no próprio entendimento de acadêmicas/os, ativistas e demais pensadoras/es sociais acerca do que configura o(s) gênero(s).
Nesse sentido, vimos por meio desta registrar à Coordenação Geral e à Comissão Científica do evento nosso reconhecimento pela abertura para o diálogo sobre o transfeminismo quando o Simpósio Temático foi aprovado – pertinência que foi referendada pela qualidade e quantidade de trabalhos submetidos e aprovados – e pela iniciativa de ter organizado a Mesa Redonda “Transfeminismos no Brasil”, ambos espaços de debate plenamente integrados ao espírito desta edição do FG10, os desafios atuais dos feminismos.
Alertamos, para fins de aprimoramento das futuras edições, que a atualidade do tema e a pouca produção no campo pode ter gerado o desconforto observado na Mesa “Transfeminismos no Brasil”, na qual, apesar da qualidade e importância das pesquisas das palestrantes que se apresentaram, apenas uma delas possuía escopo teórico na questão propriamente dita.
Sugerimos à organização do evento que todas/os as/os debatedoras/es em quaisquer mesas sobre transfeminismo sejam pesquisadoras/es e/ou pessoas com expertise na área.
Ressaltamos que urge uma valorização dos conhecimentos e modos de fazer das pessoas trans, construídos historicamente, por meio de enfrentamentos ao cotidiano de exclusão ao qual a população trans está submetida no Brasil, culminando em um genocídio trans invisibilizado nas estatísticas oficiais ou indevidamente identificado como parte de um processo de homofobia – esta é a nação na qual mais se matam pessoas trans no mundo, conforme dados de pesquisa coletados em 55 países pela Organização Não Governamental Transgender Europe.
Convidando para uma produção solidária de não silenciamento, discordamos de qualquer tentativa de menosprezar as vozes – cada vez mais audíveis – das pessoas trans que denunciam o sexismo, o cissexismo e, em certos casos, a transfobia de quem considera que as pessoas trans devam ser apenas ouvintes ou objetos de estudo, e não sujeitos produtores de saberes.
Em resposta a discursos mal intencionados ou desinformados, destacamos que não buscamos naturalização de identidades por meio do uso do termo “cisgênero”, em contraposição ao de “transgênero”, pretendemos tão-somente localizar as pessoas trans e cis em seus espaços identitários de gênero e forçar o reconhecimento de que há privilégios, constituídos socialmente, para pessoas cisgênero, em detrimento das pessoas transgênero.
Convidamos acadêmicas/os a se mobilizarem favoravelmente pela inclusão efetiva – e não apenas no discurso – da população transgênero nas universidades brasileiras, seja como estudantes, técnicas/os ou professoras/es, sem temores infundados de “invasão” de espaços, mas, isso sim, de diminuição de alguns dos inúmeros obstáculos que impedem ou prejudicam a inserção e a permanência de pessoas trans no Ensino Superior, em quaisquer posições.
Concluindo, exaltamos as/os estudiosas/os e grupos de pesquisa que, apesar da quase ausência de apoio financeiro e infraestrutural aos estudos e pesquisas sobre a realidade das pessoas trans e sua transformação, empreendem trabalhos intelectuais e de intervenção com ousadia e senso de justiça social.
Florianópolis, 20 de setembro de 2013.
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