Comentários transfóbicos no G1 revelam desumanização cotidiana

Vejo uma notícia do G1 sobre uma atuação policial em um caso em que transexuais eram obrigadas a se prostituírem em virtude de endividamento sucessivo que configura trabalho escravo. E os comentários da notícia, vocês imaginam? Nenhum aborda qualquer questão relacionada as razões que motivam a precariedade da vida de pessoas trans, como a discriminação no mercado de trabalho que leva essas pessoas encontrarem apenas o trabalho sexual precário nestas condições.

Porque ninguém se importa se essas pessoas trans vão ter acesso a cuidados médicos para terem as alterações corporais que desejam, ninguém se importa se essas meninas foram expulsas de casa e da escola. Porque se importar com esse tipo de coisa requer um questionamento crítico de normas que as pessoas preferem deixar intocadas por mera comodidade. Mas há comentários com viés moralizante, religioso, não fica claro em alguns se a indignação se refere a exploração a que essas pessoas estavam submetidas ou à “degradação moral” que a identidade trans intencionalmente representaria.

Outros dizem que não há “inocentes” ali, que as pessoas estariam lá porque quiseram, ignorando completamente as injustiças sociais que as levaram para aquela situação. Outros fazem piadinha sobre como alguém iria pagar para ter sexo com pessoas trans. Esses comentários revelam a desumanização cotidiana de pessoas trans. E imagina então o que radfems iriam dizer sobre esse tipo de situação, alimentando retórica punitivista que em nada ajuda a situação concreta de pessoas que se prostituem e acaba contribuindo ainda mais para a retórica da culpabilização da vítima, mesmo que por outras vias que não o discurso conservador tradicional.

O que foge a todas essas perspectivas veiculadas por estes comentaristas é o mínimo de exercício de empatia, já que pessoas trans deixam de serem vistas como seres humanos. E para que você tenha empatia a uma realidade que não te pertence ou que você não experiencia de forma direta é preciso considerar que o ponto de vista do outro pertence a um co-específico, isto é, a um outro ser humano, e isso frequentemente não se aplica quando falamos de pessoas trans.


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