Como agir em casos de ”Crianças LGBT”??
Essa é uma pergunta recorrente que ouço, sempre que vou participar de qualquer tipo de atividade, com a intenção de saberem como agir em caso de crianças que apresentam comportamento diferente daquele que os pais (e a sociedade) esperam.
Vejo pais, irmãos, professores, pedagogos, psicologos etc, sofrendo, preocupados em enquadrar a criança em algo, as vezes para ”reverter” esse comportamento ou mesmo para que o Psi dê as respostas que eles querem, para a partir disso decidir como lidar com a questão.
Acredito que o erro esteja exatamente ai: Querer ‘diagnosticar’ o que passa com a pessoa para saber que métodos usar – se é que serão precisos algum método além do respeito e acolhimento.
Estamos falando de pessoas. E o gênero, a sexualidade e o próprio comportamento humano, apesar de seres construídos socialmente, não devem ser demonizados, patologizados, engessados, coisificados, e muito menos tidos como um defeito ou erro da natureza.
Nossas expressões pessoais como o jeito de andar, falar, sentar, agir, vestir, especialmente na infância, refletem unicamente quem somos. E é nesse momento onde os problemas começam a surgir, vindo de pessoas que esperam um comportamento especifico, sem levar em conta que ali falamos de um ser humano (e que somos todos diferentes, únicos). Que está descobrindo o mundo, experimentando coisas e procurando seu lugar (ou não lugar a partir do que está normatizado) na sociedade.
Sempre falo aos pais, que não tenham essa ânsia de saber se o filho é Gay ou lésbica, ou mesmo Trans, caso ele apresente um comportamento diferente do que se espera do gênero que lhe foi imposto (Menino brinca de bola e usa azul, menina gosta de boneca e usa rosa).
Se um menino está usando vestido ou coisas de meninas, não quer dizer que necessariamente ele seja gay ou trans. Se uma menina apresenta comportamento tido como masculinizado, isso também não quer dizer que ela seja trans ou lésbica.
Na verdade, ele ou ela, não estão se mostrando gays, lésbicas ou trans, estão sendo quem são. E tolir esse direito, de as crianças expressam livremente quem são, é impetrar muito sofrimento e uma série de situações violentas que podem levar a consequências devastadoras como se tornar uma pessoa introspectiva, depressão, automutilação, levar ao suicídio, etc.
Deixem as crianças (e todas as pessoas) serem livres!!! Mas e se forem LGBT?
Daí quando esses pais me perguntam com o agir, eu respondo sempre:
Procurem vocês ajuda. São vocês que precisaram de apoio e suporte para acolher seus filhos e suas ”diferenças”.
Vocês não tem que aceitar a condição do seu filho. Muito mesquinho esse pensamento de ter que aceitar para poder amar! O que eles precisam é estar inseridos em uma família que onde possam se expressar sem nenhum tipo de imposição. Vocês tem que abraçá-los, ajudar a enfrentar as dificuldades que terão no trato com o mundo exterior (que é preconceituoso e intolerante com as diferenças), e educá-los a fim de que sejam pessoas honestas, dignas e livres de qualquer opressão. Orientação sexual não tem a ver com caráter! Ser trans ou cis, também não!
Acolham seus filhos, o que eles precisam é ser protegidos de ambientes e pais abusivos, mesmo que sejam LGBT, entendam que a vida deles não lhes pertence. É infantil esse sentimento de posse que os pais, em sua maioria, tem sobre os filhos.
Se vocês sofrem pela possibilidade de ter um filho LGBT, não tenham filhos! A chance de ter um filho LGBT é a mesma de ter um filho destro ou canhoto! E caso tenham, não são eles que precisam de reorientação, são vocês, nós! Que fomos ensinados a ser intolerantes, racistas, machistas e LGBTfóbicos.
Amem, se libertem do preconceito e sejam livres para acolher e amar seus filhos, independente de serem LGBT ou não.
Quando um filho sai do armário e os pais entram, esses pais estão assinando o atestado de óbito de seus filhos!
Bruna Benevides
Militante Transfeminista
(Foto meramente ilustrativa – ou não)