Gostaria de resgatar duas publicações a respeito de crescer sendo LGBT (ou queer), uma mais especificamente sobre crescer sendo uma pessoa transgênera. Os insights preciosos a respeito da socialização de pessoas queer, inclusive de pessoas cisgêneras lésbicas, gays e bissexuais, também são preciosos para a compreensão da autenticidade das vivências trans.
Estas considerações são importantes tendo em vista a frequência com que radfem (mais especificamente TERFs) utilizam a noção de “socialização” para retirar a autenticidade das vivências de pessoas trans, especialmente de mulheres trans, ao sugerir que mulheres trans tiveram, desde crianças, uma “socialização masculina” e por isso teriam automaticamente “privilégios masculinos” e seriam e/ou “sempre foram”, “na verdade”, homens.
Primeiro, o tweet de Alexander Leon que viralizou ano passado e que inclusive saiu no Põe na Roda:
Tradução:
Pessoas queer não crescem sendo elas mesmas, crescemos interpretando uma versão de nós mesmos que sacrifica a autenticidade para minimizar a humilhação e o preconceito. A enorme tarefa de nossa vida adulta é descobrir quais partes de nós mesmos somos realmente nós e quais partes criamos para nos proteger.
É pesado, existencial e difícil. Mas estou convencido de que ser confrontado com a necessidade de uma autodescoberta profunda de forma tão explícita (e frequentemente no início da vida!) é um presente disfarçado. Saímos do outro lado mais sábios e mais fiéis a nós mesmos. Algumas pessoas cis/het nunca chegam lá.
Tudo isso é para dizer – seja gentil com você mesmo. Descobrir quem você realmente é é uma tarefa enorme; não acontece da noite para o dia, nem sem alguns soluços ao longo do caminho. Seja paciente, seja sensível, vulnerável e exista ruidosamente. E acima de tudo – tenha orgulho!
Segundo, o print de Alexis Gorman:
Tradução:
“Meninas trans cresceram como meninos-” meninas trans cresceram como meninas trans, porque a experiência de crescer como um indivíduo transfeminino é uma experiência por si só, diferente da infância de meninos e meninas cis, uma parte de nossas vidas lotada com confusão e dor e abuso.
Tendo em vista o que foi exposto… vocês achariam aceitável dizer que gays e lésbicas usufruíram de privilégio heterossexual pelo fato de serem criadas para serem heterossexuais (como toda pessoa)? Achariam aceitável dizer que gays e lésbicas usufruem de privilégio heterossexual antes de se assumirem publicamente como gays e lésbicas? Se não, porque acham aceitável dizer que mulheres trans teriam privilégio masculino?
Leia também:
Vamos falar de “socialização”, coisa boa né… #sqn
Out of the closet and into the fire — how I stopped performing and fought to become myself
Imagem: Denin Lawley/ Unsplash.