Texto de Emília Braz.
Hoje eu participei da conferência de encerramento do evento “educação e cidadania na pespectiva étnico-racial” promovido pelo neabi (núcleo de estudos e pesquisas afrobrasileiras e indígenas) com o professor renato nogueira (ufrj) e à minha pergunta (sobre métodos decoloniais de se enfrentar o cistema) ele respondeu que uma atitude que ele mesmo vinha praticando era a criação de ficções feitas por nós e para nós e aqui tem os primeiros versos dum poema (que algum dia eu possa a vim completar) que foram inspirados pela situação cissexista da qual fui vítima nessa mesma noite e que, obviamente, venho sofrendo no âmbito da universidade desde o dia que iniciei meus estudos na uffs (tanto institucional quanto não-institucionalmente): ser tratada no masculino:
“esforços decoloniais
parecem ser demais
pra bicha pintosa*
que do nome social
o uso não faz”
notas sobre porque quis escrever isso:
(1) eu adoro tanto bichas pintosas (por serem bichas pintosas) quanto as palestras nas quais venho frequentando desde o primeiro semestre desse ano e como elas tem me guiado para reflexões interessantes mas
(2) eu não adoro bichas pintosas (ou qualquer pessoa que se proponha a destruir o cistema heteropatriarcal) que não se ligam pras merdas que elas fazem e seguem a vida como se tudo estivesse tudo bem e
(3) estar na presença de pessoas marginalizadas – no caso de hoje, uma pessoa negra falando e uma pessoa trans ouvindo – é uma oportunidade de se educar em como se relacionar com essas pessoas já que, como foi exposto na palestra, temos nossos costumes colonizados. Aproveitando,
(4) na terceira noite da semana acadêmica de ciências sociais (09/11, uma quarta) ao final da mesa durante as discussões foi levantado a questão de como lidar com situações de machismos e sexismos na ocupação já que as meninas estavam sendo acusadas de estarem sendo “agressivas” nas suas colocações mas, em contrapartida, eu gostaria de citar um trecho da dissertação da Viviane Vergueiro (que representa o meu primeiro contato com estudos pós-coloniais/decoloniais):
“[…] A cada intervenção minha, notava-se o incômodo crescente de algumas pessoas com estas críticas: ao final de minha participação no projeto, adjetivos como ‘agressiva’ e ‘prepotente’ surgiram para (des)qualificá-las. Felizmente, apesar dos impactos subjetivos que estas instâncias tiveram naqueles momentos, hoje me é possível refletir sobre esta desconsideração – ou distorção – de minhas reflexões críticas como algo “reproduzido em discursos acadêmicos através de epistemologias e métodos que colocam as vozes de grupos marginalizados como secundárias” (KILOMBA, 2010, 46): nesse sentido, minha voz enquanto pesquisadora trans é colocada em segundo plano, diante das experiências e credenciais acadêmicas das pessoas cisgêneras a estudar a população trans que se ‘estressaram’ e consideraram ‘agressivas demais’ minhas intervenções críticas.” (p 106).
O que quero dizer é que não importa tanto como iremos nos posicionar com relação às violências cistêmicas que sofremos mas o ato de apontarmos tais violências é lida como algo violento, uma ação exaltada.
(*) altere essa parte com qualquer sujeito adjetivado que você quiser, como por exemplo, professorx mestrx/doutoradx, secretaria de ciências sociais, universidade federal, rua movimentada, parentes próximos, etc…
Tradução: Por que, quando você denuncia transfobia, você sempre foca nas pessoas cis? Isso não é uma forma de intolerância?