Texto de Léo Barbosa.
Exceção.
Desde a minha mais tenra idade descobri e vivo um preconceito que me trata como abjeto.
A partir dos meus 5 anos comecei a experimentar o ódio humano. Quando começaram a me apelidar de nomes que me.diminuíam ou me diferenciavam dos demais. O que eles não esperavam é que eu reagisse. E eu reagi até os meus 40 anos. Fazendo com que minha vida fosse um perpetuar de violências pra obter respeito.
Se tem uma coisa que a sociedade percebe imediatamente é. Vc ser diferente no gênero que lhe foi imposto. E por mais que as agressões fossem na direção da homossexualidade, não era homofobia, eu sofria transfobia, pq era ligada a minha expressão de gênero até meus 40 anos. Ligada a como eu me apresentava socialmente e me impunha socialmente.
Tive os mais diversos enfrentamentos por eu ser eu, e não aceitar que me.moldassem a seu bel prazer. Desde as brigas na rua, que eram quase diárias, às exigências de professores par que eu entrasse na caixinha, definida pela sociedade, como adequada. Consegui chegar ao fim do colegial com atraso, sai por um tempo para ter forças pra voltar, mas consegui. E nessa época já tentava e muito, entrar mo mercado de trabalho sem resultados.
Meu pai havia me conseguido um emprego numa terceirizada da prefeitura, mas por motivos particulares, tive que sair. Isso em 1989, depois disso, nunca mais tive emprego registrado. E lá se vão 28 anos sem carteira assinada.
Algo que nunca vou me.esquecer era o que a.pessoa da entrevista pessoal dizia , depois de eu ter passado em todos os exames de admissão : ” Nós não contratamos pessoas como você!” Essa frase virou quase um mantra em minha vida, depois de anos ouvindo isso, perdi muito da vontade de entrar no mercado formal. Mas sempre que ia tentar, ouvia a mesma.frase.
Trabalhei de diversas formas: Fui ajudante de pedreiro, vendi dvd pirata, óculos no farol, produtos de estética, chapeiro, ajudante de Lava rápido, o que fosse preciso ou necessário. E tudo isso, já com bacharelados. Administração de empresas.
As exclusões me levaram as drogas, e nelas fiquei por 20 anos, numa fuga intensa desse planeta e realmente o que eu busquei nas drogas, elas me deram. Mas depois de 20 anos, olhei pra mime vi que me faltava muito e isso me moveu a deixe as drogas ( sobre isso falarei em outro momento).
O mercado nunca me acolheu e é preciso dizer que mesmo quando eu vendia coisas por ai, nem assim eram boas as vendas, e claro, a transfobia era o motivo. E lembrando, eu não levava desaforo pra casa, então teve brigas… Sempre tinha!
Aos 40, com a ciência da minha identidade de gênero e eu ter parado com as drogas eu percebo que estava fazendo exatamente o que a sociedade queria de mim, me anulando, me matando, me tornando o ser marginal que ela sempre quis que eu fosse. Então eu resolvo ser o que eu deveria ser desde sempre, SUJEITO DE DIREITO ! E para isso dou uma guinada na minha vida e começo a cursar Direito em 2014. Essa foi uma decisão movida pelas minhas exclusões, sendo o meio que encontrei para, não ser inserido a força na sociedade mas de poder cuidar de mim, por mim mesmo (como sempre, aliás) mas de forma interativa com as normas e as armas que essa sociedade usa, de igual para igual (mais ou menos, iguais. menos desigual).
A minha vida inteira, vivi em exclusão, e continuo vivendo. Mas entre ficar me apagando socialmente e lutar por mim, fiquei com a segunda opção. Demorei, mas não desisto mais de mim!
A minha vida!