Por Amiel Vieira.
LOURIVAL E TÊU, HOMENS TRANS APAGADOS E ESQUECIDOS…
Na história da humanidade pessoas trans sempre estiveram presentes. Em suas existências , tiveram e ainda tem o desafio de sobreviver diante a uma sociedade transfóbica, inclusive a brasileira que em nosso país nos dá o prêmio da vergonha: somos o país que mais mata pessoas trans no mundo.
Do começo ao fim a reportagem do fantástico faz um deserviço enorme apagando Lourival de sua própria história e reconhecimento comum e colocando em cheque sua existência material. Isso acontece todos os dias na realidade, pessoas trans são apagadas da história e seus direitos negados, mesmo com o nome retificado como mostra seu CPF. A exposição de seu nome civil é um atentado a sua história e carrega o ódio que a sociedade tem quando a transição de gênero acontece.
Não sei qual foi o contato de Lourival com o movimento trans, mas os detalhes apresentados pela perícia demonstram que ele tinha disforia de gênero, o que diante da medicina atestaria sua transgeneridade. A construção da transgeneridade é plural, não acontece a todos da mesma maneira e como a sociedade adora nos coisificar e classificar segundo o que diz a medicina e a psicologia, digo que estava mais do que visível pelos dados apresentados a sua identidade de gênero.
Um outro ponto que queria destacar aqui tem a ver com a questão de que ele pode ter sido uma pessoa intersexo, cirurgiada na infância e talvez ninguém saiba, mesmo tendo dados biológicos que poderiam ligá-lo ao feminino , ele poderia por exemplo ter tido uma genitália ambígua e sido colocado para viver uma feminilidade forçada. Ele pode não ter aceitado o gênero que lhe deram e se entendido no masculino e passou a se comportar e mostrar diante da sociedade como se reconhecia, inclusive nos documentos como no CPF e a certidão de nascimento da filha adotada.
A transexualidade e a intersexualidade sempre existiram, mas sempre foram invisíveis. Hoje graças aos movimentos de luta em nosso favor, conhecemos mais histórias e percebemos o quão urgente e necessário é falar sobre gênero e sexualidade em todos os espaços.Além disso reforço e conclamo a mais visibilidade para a masculinidade trans. É preciso que nos conheçam e que nos ouçam e percebam a importância da voz e da vez dos homens trans. A sociedade toda pode ganhar quando nos ouve, ganha mais vida, mais cor e traz mais responsabilidade a quem ouve para nos respeitar e para espalhar a palavra sobre nossa existência.
Precisamos pensar que mesmo com o nome retificado, Lourival pode ser apagado de sua história na lápide, simplesmente por causa de uma genitália que em nada define o gênero. É preciso pensar sobre o reconhecimento de pessoas trans em sua morte quando não há o nome retificado também , precisamos de leis que garantam esse direito e acima de tudo respeito.
No mês em que comemoramos a visibilidade transmaculina, é preciso falar da nossa existência, da nossa luta e das nossas demandas. Nunca me esqueço que diante de tantas mortes e pessoas que nos deixaram, Têu nascimento foi esquecido no movimento Trans. Sua morte é uma dor que carrego todos os dias. Seu corpo foi mutilado e violentado por seus assassinos inclusive por se declarar homem diante da sociedade, de modo diferente também querem apagar Lourival e espero que com luta consigamos que sua identidade de gênero em vida seja preservada na morte.
TÊU NASCIMENTO PRESENTE, HOJE E SEMPRE.
LOURIVAL PRESENTE.
DIGNIDADE E VIDA ÀS PESSOAS TRANS DO BRASIL.