Por Leonarda Lisboa.
Inicialmente, as feministas radicais advogavam pela androginia.
O conceito de feminilidade, não era natural, e seria a base ideológica da subordinação das mulheres numa sociedade de classes, assim: as funções e as responsabilidades reprodutivas e sexuais (criação dos filhos, etc), serviam para limitar o desenvolvimento das mulheres como pessoas completas.
Androginia significava agir tanto homem como mulher, ter características atribuídas tanto ao homem como à mulher, para que os papéis de sexo(os estereótipos e padrões) não se perpetuassem. Isto significava que as mulheres deveriam adotar algumas características masculinas (e os homens algumas características femininas), contrapondo a socialização. Assim como trabalhar para uma revolução biológica que libertasse homens e mulheres das funções reprodutivas e sexuais atreladas a família biológica.
Porém mais tarde, em finais dos anos 1970, uma parcela das feministas radicais rechaçou o objetivo da androginia, pois pensavam que isto significava que as mulheres deveriam aprender e imitar algumas das piores características da masculinidade, e abdicar de suas características biológicas.
Em vez disso, propunham que a mulher deveria afirmar sua “feminilidade”, que lhes seria algo natural. As mulheres deveriam dar ênfase às virtudes da mulher tais como a cumplicidade, a empatia, o altruísmo, a emoção, a ausência de hierarquia, a natureza, a docilidade, a proteção, a alegria, a paz e a vida. Daqui em diante, toda sua atenção se tornou separatista; as mulheres apenas deveriam relacionar-se com mulheres, deveriam construir uma cultura e instituições de mulheres.
Com isso mudou inclusive sua compreensão acerca da sexualidade e elas acreditaram que as mulheres deveriam converter-se em lésbicas, apoiando as relações lésbicas e monogâmicas como o melhor para as mulheres. Politicamente converteram-se em pacifistas. A violência e a agressão eram, segundo elas, características inerentemente masculinas que deviam ser rechaçadas.
Afirmavam que as mulheres são naturalmente amantes da paz e doadoras da vida. Com a construção dessas instituições alternativas exclusivas de mulheres, elas acreditavam estar trazendo a mudança revolucionária. Começaram a construir clubes de mulheres, realizavam filmes de mulheres e outras formas de cultura separada para mulheres. Em sua compreensão, a transformação revolucionária da sociedade será levada à cabo de forma gradual, através de uma mudança cultural. Esta corrente é chamada feminismo cultural porque se centra por completo no aspecto cultural da sociedade. Elas não relacionam a cultura à estrutura político-econômica da sociedade.
Nisso: Social ou biológico, construir uma androginia ou se apegar aos estereótipos como naturais, trabalhar em conjunto com os homens ou se separar e isolar, político e econômico ou meramente cultural, lutar contra qualquer repressão sexual ou advogar pelo lesbianismo político, impedindo as relações sexuais e afetivas entre homens e mulheres…
O feminismo radical de hoje, Frankenstein desses recortes contraditórios e incompatíveis, vai se afastando de qualquer relação que já teve com o marxismo, e nessa mistura de reformismo e idealismo, promete uma revolução feminista que de consenso só tem jargões como abolição de gênero e um apego ao essencialismo biológico, que chamam confusamente de materialidade.