Por Beatriz Pagliarini Bagagli.
Vamos abordar uma estratégia retórica muito presente nos discursos terfs (feministas radicais trans-excludentes). Trata-se da alegação de que mulheres trans seriam ouvidas, respeitadas e legitimadas por homens em nossa sociedade. A ideia de que mulheres trans são respeitadas pelos homens é então utilizada como argumento de que mulheres trans são privilegiadas numa sociedade sexista, enquanto mulheres cis obviamente não seriam. Prova então irrefutável de que mulheres trans não são mulheres, certo?!
Qualquer observação mais atenta irá perceber o quão essa percepção é duplamente distorcida e equivocada. Eu aliás desconfio se de fato alguém realmente acredita nesta representação de que mulheres trans são assim tão ~adoradas e protegidas~ ou se de fato o cinismo faz parte estruturante da forma de ser e estar como terf neste mundo.
Primeiro, infelizmente, mulheres trans não são respeitadas sistematicamente por homens. Muito pelo contrário: mulheres trans são odiadas e desprezadas pela maioria dos homens cis – porque é assim que mulheres trans são compreendidas pela cultura machista hegemônica. Não somos vistas como dignas de respeito, infelizmente. Eu poderia inclusive apontar inúmeras situações em que mulheres cis seriam protegidas (ou vistas como dignas de proteção e respeito pelos homens cis) enquanto que mulheres trans não seriam para tentar provar que mulheres cis são beneficiadas pelo machismo e as mulheres trans as realmente oprimidas – mas obviamente não vou fazer isso, afinal não sou uma terf ao contrário.
A segunda camada de perversão deste pensamento radfem (percebam aliás, como perversidade e feminismo radical trans-excludente andam de mãos dadas) consiste em atribuir o caráter pernicioso a situações pontuais realmente positivas – ou melhor, que deveriam ser apenas mais um sinal de decência social básica.
Se pessoas cis, incluindo homens cis, entendem que mulheres trans precisam ser respeitadas e não estigmatizadas, assim como todas as demais pessoas, essas pessoas estão concluindo algo que deveria ser óbvio – mas que radfems utilizam como suposta prova de algo ruim, isto é, de que mulheres trans seriam privilegiadas pelo machismo. É tanto absurdo que é até ridículo descrever o funcionamento da perversidade e cinismo desse discurso. Aliás, escrevo isso pensando em tweets de uma aparente fã de J.K. Rowling:
Tradução:
“Como você pode dizer que uma transmulher não é realmente uma mulher: um guia
1. Homens as ouvem.
2. Homens não policiam a sua aparência.
3. Homens na internet não pedem a elas que ch*pem seus paus.
4. Homens se preocupam com a violência contra elas.
5. Homens não procuram pornô que as retratam como menores de idade.”