O Youtube e a #VisibilidadeTrans

Texto de Magô Tonhon.

tenho me esforçado para além da prioridade da escritura do mestrado, também a pesquisar, seguir, assistir e comentar conteúdo de pessoas T no youtube (YT) que é um lugar onde tem crescido o número de canais assinados por pessoas T no último ano e meio +/-.
penso que mesmo sendo um conteúdo cada vez mais jovem, considerando a faixa etária de uma grande parcela dessas pessoas, é preciso que eu fique por dentro do que está sendo dito e pautado, se é uma plataforma que eu me dispus a de alguma forma habitar e portanto disputar também. se pensarmos em número, temos o canal da Mandy com + de 503 mil inscritos, o canal da Hugo Nasck com + de 53 mil inscritos, o canal do Ariel Modara com + de 38 mil inscritos e o da Thiessita com + de 35 mil inscritos, o Barraco da Rosa com + de 14 mil inscritos, o Lucca Najar com + de 28 mil inscritos, a Raphaela Love “Queen B” Laet com + de 74 mil inscritos. Mas tem também MUITOS outros. Produzindo conteúdo interessante, de um jeito interessante. Eu vou citar alguns nomes mas tem MUITA GENTE!

1. Xisto, um videoblog
2. Adam Franco
3. Cavalos-Marinhos
4. Transdiário
5. Jake B. Vieira
6. Canal AVELAM do Lam Matos
7. Canal do Bernardo Enoch Mota
8. Canal da Isa Momora (cadê vc no face Isa? não consegui marcar)
9. Vitória Guarizo
10. Caetano Mendes
11. CID10
12. Professora Luiza Coppieters
13. Canal da Bibi Sttar
14. Canal da Lari Fernandes
15. Lorena Olaf Furter
16. A vida TransGay de Kaito Felipe
17. Camila Em Flor
18. Luísa Marilac
19. Canal da Renata Peron
20. Priscila Guimarães
21. Guilherme Góes
22. Hello, Helô VLOG
23. De Transs Pra Frente
24. Canal Voz Trans* (criado por mim)

Só aqui contei pelo menos 30 canais que produziram conteúdo nos últimos meses. Pensa que eles foram chamados pra falar sobre o assunto ou aparecerem no #YoutubeTRANS ? não! não foram, até porque acho que não dá like, né? ¬¬

No dia 29 de janeiro parte do youtube LGB se mobilizou pra aderir a hashtag #VisibilidadeTrans e o que vimos foi um conjunto de canais de pessoas LGBT produzindo conteúdo sobre a hashtag. Como o próprio nome da hashtag criada já indica VISIBILIDADE e também o que se vê muito em voga nos dias de hoje [mesmo que as vezes usado de maneira reduzida] é o debate sobre visibilizar nossas demandas e protagonizar nossos discursos sobre nós mesmxs. E eu percebi o quão alguns canais LGBT do YT são esvaziados politicamente.

Pudemos ver na hashtag canais LGB no qual ficava evidente a não consciência [política] que a data evoca. Ficou evidente que algumas pessoas LGB que se dispuseram a participar dessa movimentação SEQUER sabiam dizer o que significa por exemplo SER T [travestis, transexuais, transgênerxs]. Muito além de ‘fogo amigo’ o que eu venho pensando são as limitações dentro da ‘bolha’. O que fica mais evidente é que não partimos do mesmo lugar por estarmos aparentemente ‘do mesmo lado’. Indo nessa direção se evidencia o quão necessário é debater essa ideia de ‘consenso’ dentre as pessoas LGB sobre, aqui especificamente, as questões T.

Por que, assim gente, eu não vejo MENOR relevância em você, cis LGB chamar as pessoas T no dia 29 [apenas] pra participar do seu canal apenas fazendo questões pra você. Antes de querer colocar valor sobre se vale ou não vale um conteúdo como esse [longe de mim querer decidir o que se vai gravar em canal alheio] eu coloco questões cruciais: por que apenas e exclusivamente no dia 29 essas participações de conteúdos ‘banais’ do ponto de vista político? pq não foram convidadas essas pessoas T ao longo do ano, em outras datas? Vocês entendem o que eu tô questionando? Eu fico querendo dar um mergulho nessas águas rasas de apenas parecer T-parceiro/a por ter participado dessa hashtag. Likes? São apenas likes que importam?

Levando em conta o alcance dessas pessoas e os públicos, é extremamente importante que se tenha ZELO pelo que se vai dizer. Pelo que está rolando fora da bolha do youtube. Como se pode achar OK que no dia da visibilidade T, se veicule opinião de pessoas (T inclusive) dizendo que a questão da transgeneridade está “no cérebro” e que a pessoa T ‘nasceu no corpo errado’ uma vez que há muito tempo se vem batalhando pela DESPATOLOGIZAÇÃO de nossas identidades inclusive encabeçadas pelo Conselho Federal de Psicologia?

Como se pode achar OK que pessoas cisgêneras em um vídeo para o dia da Visibilidade Trans GENITALIZE o discurso chamando pessoas CIS de apenas ‘homem’ e ‘mulher’ por exemplo?

Se a gente não puder ATENTAR e APONTAR essas problemáticas sem ser encarada como uma problematizadora entediada, ou uma recalcada que não foi convidada e até mesmo como quem quer causar discórdia, daí fica foda! Porque entediada, olha me aponta uma pessoa que não seja; sobre ser convidada, não costumo esperar, faço eu mesma o convite [inclusive responde aí os inbox que eu mandei canais maravilhosos LGBT do YT]; e sobre causar, o que eu quero é causar reflexão mesmo, é super violento a gente partir do pressuposto que TEMOS CONSENSO de algo. e como diz a minha amiga-irmã de guerra e de luta Erika Hilton: É MUITO CANSATIVO QUE A GENTE TENHA QUE DIZER O ‘ÓBVIO’ be-á-bá PARA PESSOAS QUE VIA DE REGRA DEVERIAM JÁ SABER E JÁ PARTIR DE UM MÍNIMO DENOMINADOR COMUM UMA VEZ QUE DIZEM PARTILHAR DE NOSSAS LUTAS, UMA VEZ QUE DIZEM SER NOSSXS PARCEIRXS NESSA BRIGA.

eu pretendo gravar vários vídeos falando sobre isso e também elencando os canais produzidos por pessoas T. E quanto aos canais LGB que dispõem de um grande número de seguidores: sejam empáticos, prestem atenção, tenham cuidado e não se importem exclusivamente com likes.

A plataforma é dinâmica, permite vários vídeos durante o ano, nós existimos também nos outros 300 e tantos dias restantes. se vocês tem um grande número de seguidores, chamem mais pessoas pra falar, ouçam outros discursos, atentem pra não transformar a gente num bloco monolítico igualzinhe entre nós porque partindo desse pressuposto se eu dissesse que gay cis é tudo igual ia ficar feio não ia? então.

comenta aí o que vocês acham.

Conheça também o canal Voz Trans*, de Magô Tonhon.


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