Texto de Sabrina Aquino, publicado originalmente em 26 de janeiro de 2016, em seu perfil pessoal no Facebook.
“É de esquerda, mas legitima a legalização da prostituição pq têm uma amiguinha que se prostitui por “opção”. 99% materialista histórico dialético, mas aquele 1% Liberal”.
– Vamos falar de desonestidade:
A luta por direitos trabalhistas das profissionais do sexo é defendida por razões minimas de dignidade e segurança. Não tem nada a ver com a afirmação ridícula em respaldar tal defesa em “opção” de um grupo seleto que não está nem um pouco interessada em ter a profissão registrada em carteira de trabalho, e menos ainda, no fator previdenciário. As abolicionistas (que adoram dizer-se marxistas, risos) ficam nessa siririca mental dizendo que as “libfem” defendem legalização das casas prostituição que só “fomentará ainda mais o aliciamento”, como se direitos trabalhistas no Brasil fossem iguais aos dos países nórdicos #risos
– Vamos falar das que escolheram o que fazem:
A pequena parcela de prostituta de luxo CAGA E ANDA para tal regulamentação, muitas inclusive estão nessa de passagem, atuam em lugares seguros (podemos discutir essa ‘segurança’ desde a perspectiva feminista, obviamente) e num patamar que as deixam beeemm confortáveis de grana para deixar o ramo quando quiserem, se quiserem.
A defesa da regulamentação é justamente para a SEGURANÇA das mais vulneráveis, a maioria delas, pessoas trans.
– Vamos falar de “opção” na vida:
É óbvio ululante que nenhuma “escolha” está livre das coerções que as circundam, e as mulheres são maioria no ramo da prostituição, então por si só isso já indica desvantagem no mercado de educação e, por conseguinte, de trabalho neste sistema. Porém, só vejo pirralha classe media, no conforto de sua vida bem menos estigmatizada, defendendo abolicionismo. Quero ver defender ensino fundamental não sexista, que seja um direito seguro para tod@s e livre de transfobia. Mas desconfio que seja pedir muito, pois via de regra, as abolicionistas são as mesmas que andam por aí vomitando transfobia.
Usem a suposta disposição analítica *materialista* tirada do suvaco de forma correta: vá perguntar às prostitutas pobres (que existem e continuarão existindo até que a dignidade seja costume) se elas não gostariam de ter uma aposentadoria garantida, mesmo que esta seja de um mísero salário mínimo. Façam esse exercício.
Aproveitem e façam outro exercício: Vá até o sindicato das empregadas domésticas e fala pra elas que a PL que finalmente garantiu seus direitos iguais aos de outras categorias de trabalhadoras foi um “retrocesso porque essa profissão é baseada em doutrinação masculinista, exploração racista e machista e portanto elas precisam se libertar dessa vida de amargura e humilhação”. Vá lá falar isso pra elas.
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Em tempo: Não se trata de dizer aqui que o trabalho regulamentado pelo estado-empresarial é a fórmula mágica para libertar mulheres, OK? Mas sim de não se fechar para o fato indiscutível de que as mulheres não estão à parte da classe trabalhadora, e assim sendo, a luta feminista deve estar totalmente imbricada na luta da classe trabalhadora. A exploração do trabalho alienado de outrem pelo capital é uma opressão pela qual devemos estar dispostos a extinguir, mas é inadimissível que pessoas que se dizem “materialistas histórico dialéticas” sejam contra a criação de direitos trabalhistas e redes de proteção a mulheres trabalhadoras.
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(Atualização: post 12/12/2015):
Feministas “abolicionistas” dizem que são as únicas que lutam por um mundo onde nenhuma mulher precise se prostituir, que vão à raiz das problemáticas socias, mas muitas são governistas.
Defendem o bolsa familia (que é a única saída para muitas pessoas mas não é autonomia de fato e nem de longe preenche todos os requisitos universalizadores dos Direitos Humanos) mas quando se trata dos direitos trabalhistas de prostitutas (que são em grande maioria pessoas trans), querem ser revolucionárias. Querem o fim do sistema. Só não explicam como as prostitutas — que existem e não conseguem do dia pra noite um trabalho que não seja ̶v̶e̶n̶d̶e̶n̶d̶o̶ ̶a̶ ̶b̶u̶c̶e̶t̶a̶* prestando serviços sexuais — irão fazer até que a chegada do fim do sistema capitalista patriarcal se concretize.
Para as que desejam sair da prostituição, o caminho é longo, repleto de “não”, preconceito, exigências de formação acadêmica onde não se tem nem a formação básica. Para a maioria das pessos trans, poder usar um simples banheiro em lugar público é uma guerra. Imagine passar por uma avaliação em um RH. Muitas mulheres trans estão se prostituindo porque o país não as deseja em nenhum lugar, nem mesmo dentro dos movimentos que se querem sociais e feministas, tanto que algumas se referem às pessoas trans que se organizam como “transativistas”. Ué…
Feministas abolicionistas, do alto dos seus privilégios, dizem: “transativistas, nós estamos lutando tbm pela sua liberdade, indo contra um sistema que oprime a todas, inclusive vc, que nem tenho coragem de tratar como companheira feminista, mas luto pra te livrar desse inferno de vida humilhante, que só o fim do sistema patriarcal pode nos dar, votando na Dilma e defendendo seu mandato contra a direita golpista”. Viva la revolución!
Cês nem disfarçam.
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[*Edit 2017: Por Monique Prada: “só tiraria o “vendendo a buceta”. Primeiro, por que muitas de nós somos pessoas trans. Em seguida, por que tanto o “dar” quanto o “vender” trazem em si a ideia de que nenhuma mulher pode fazer sexo e continuar sendo uma mulher inteira”.]