Texto: Magô Tonhon
Edição e revisão: Laura Dias
Luisa Marilac e Nego do Borel, Daniel e Maria: transfobia nossa de cada dia
Nego do Borel é daqueles exemplos que, na sociedade em que vivemos, é já de longe uma exceção. Em um país que foi o último a abolir o regime escravagista sem nenhuma prática estatal efetiva de reinserção com a população que se pretendia “libertar”, mas dando continuidade ao projeto violento de embranquecimento da população brasileira com o apoio do estado, é difícil imaginar uma biografia com tantas “superações”. Considerando os racismos estruturais e estruturantes de nossas relações, instituições e leis, a definir desde quais corpos específicos ganharão menos no mercado de trabalho até os que serão mais matáveis, menos dignos de luto e alvo de banal aniquilação, infelizmente é improvável que sua experiência de “sucesso” se veja repetida e, portanto, seja uma possibilidade ao conjunto da população de onde veio.
Nego do Borel – que é uma pessoa cis negra – publica uma foto de sunga em sua conta no Instagram. Luisa Marilac é uma mulher trans que se popularizou depois de um video, destes que viralizam na internet com milhões de acessos e alavancam por curto espaço de tempo a personalidade de quem os protagoniza. Se Luisa é trans ou travesti é menos pertinente agora definir; estamos em acordo que ela não é cis. Luisa também é mais uma operária T. É notória sua biografia de luta por sobrevivência e, quanto ao mercado de trabalho, basta uma pesquisa rápida no google para ver que já atuou em diversas áreas, do entretenimento (sendo atração de festa) até mesmo em uma sauna, ocupando um cargo corriqueiro. Pois bem, Luisa comenta a foto de Nego de sunga, elogiando: “cada dia que passa você tá mais gato homem”. Ele responde ao comentário: “você é um homem gato também, parabéns deve tá cheio de gatas né?”. O perfil de Luisa leva seu nome, LuisA. Nome oposto de “Luis”, em termos de gênero. Tem em sua foto de perfil uma aparência notadamente feminina. No entanto, o comentário de Nego sublinha seu gênero designado no nascimento. Por que será? Não poderia ter usado algo neutro? “Você também é uma pessoa linda”, por exemplo. Mas não, ainda atrela gênero a orientação heterosexual: “deve estar cheio de gatas”. Luisa se ofende e publica a ofensa em seu perfil, com prints. Tem rapidamente imensa adesão à sua queixa, e começam os pedidos de que ele se desculpe.
Não tardou, veio a resposta.
A transfobia, dentre outros ranços brasileiros, não deve se resumir aos atos de violência física, aos vídeos sanguinolentos compartilhados em peso nas redes. A transfobia é o trajeto que antecede o golpe. Que o torna possível. Que faz dele aceitável. Que se entrelaça com variados outros fatores e, resumindo, que elenca quem vai morrer. A transfobia é uma ideia que goza do apoio das instituições e que, de variadas maneiras a depender da instituição, pode se expressar inclusive quando inicialmente se reconhece sua própria necessidade de enfrentamento. Estamos falando de instituições sociais, jurídicas, científicas. A transfobia estrutura inclusive o modo como se pode pensar o seu combate. Quando o estado nos reconhece como seres humanos passíveis de política pública específica, por exemplo, e cria o “Processo Transexualizador” no SUS, não acabamos com a transfobia. Hormonização igual para todas e todos sem o acesso a uma terapia hormonal minimamente alinhada com os anseios de seu público alvo é uma face da transfobia que forçosamente nos impede do direito à complexidade e a diferentes concepções e maneiras de lidar com o próprio corpo.
A mesma transfobia foi a “lente” que atravessou anos e anos de produção científica e que, por exemplo, no final do século passado, permitiu a profissionais pesquisadores de variadas ciências afirmarem e que éramos doentes, a quem a única cura seria uma cirurgia de redesignação genital. Outras bibliografias nos documentaram como pessoas que cometeram dois crimes: leso-Freud por supostamente rejeitar o falo, e leso-feminismo por, supostamente, em suas concepções homogeneizantes, querermos todas um lugar de submissão. Detalhe que, para a maior parte das produções cis-centradas cientificamente, homens trans não existiam. Qualquer semelhança ao feminismo dito radical talvez não seja mera coincidência.
A banalização da transfobia
Assim, chamar de “homem” alguém que, uma vez tendo sido designada do sexo masculino ao nascer, em sua trajetória se reivindica e é reconhecida como Luisa é uma imensa falta de respeito, no mínimo. Apesar dos esforços de se produzir em algumas instâncias – seja federal, estadual ou municipal – todo um conjunto de decretos que pudessem servir de instrumento para o respeito à identidade de gênero autorreivindicada, este tipo de transfobia é absurdamente comum para uma pessoa trans/travesti. Nos condomínios, nos hospitais públicos, nas bibliotecas, nas universidades com suas listas diárias de presença, nos cartórios, enfim, nos lugares onde uma demanda banal de apresentação de documento que comprove sua identidade com foto se faz necessária, isso já basta para que o tratamento antes de apresentado ‘o contraditório’ mude de um oposto para o outro. Os exemplos são muitos. Rapidamente, o tratamento pronominal muda; quando não, apresenta misteriosamente uma indicação não-binária que, quem nos dera, estivesse alinhada com o respeito a neutralidade pronominal: viramos Senhor Luisa ou Senhora João. Pane no (cis)tema.
Marilac é uma fã do artista. Nego é um artista.
Eu não sou fã do Nego. Tratar a Marilac, em sua resposta, como se homem cis hetero fosse é demasiadamente forçado e profundamente ofensivo a uma fã que, veja bem, enaltecia sua beleza.
O que o insulto transfóbico tão comum tem a ver com as expressões de transfobia cujo conteúdo e mais violento e sanguinário? O potencial. A vocalização. A desumanização envolvida na objeção à explícita autorreivindicação de LUISA, e não LUÍS Marilac. É claro que desapontaria sua fã. Por consequência, desapontou também a maioria dos fãs de sua fã. O circo se armou, ele correu pedir desculpas. Se ele acha que o conjunto de pessoas trans que se reivindicam mulher são homens, isso muda alguma coisa em nossas vidas? Talvez a Luisa e os admiradores dos dois que terão que habitar a contradição implícita aqui.
Quando disse que o imaginário de Nego era algo banal demais para disputarmos, eu não estava afirmando que não devemos continuar a disputar o imaginário das pessoas. Qual o tamanho de Nego do Borel, em termos de poder, se comparado a um estado historicamente transfóbico, que permitiu e acentuou nossa aniquilação para citar um exemplo por meio da famosa ‘Operação Tarântula’, que em SP “limpava” as ruas da capital com apoio dos moradores dos bairros por onde ocupávamos os passeios públicos? Qual a relevância da afirmação de que somos homens, corroborando uma lógica que reforça o caráter de “essência” contido nas questões de gênero que um artista faz, frente às declarações (cis)sexistas mais recentes de uma sinistra ministra pastora recém empossada para dirigir o equipamento público federal, também recente, Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos? E que parece corroborar com as ideias que podemos extrair daquilo que parecia um ‘elogio’ vindo do artista: “você é um homem gato também, parabéns”.
Se é relevante ou não, vai variar a depender de quem julga. Fato é que, das declarações da sinistra ministra, passando pelas humilhações institucionais variadas, chegando até um comentário do tio machista no churrasco de família ou ao “elogio” de Nego, há uma mesma matriz: a concepção essencialista da genitália que é atrelada ao gênero designado no nascimento. Estabiliza-se assim na genitália a identidade de gênero da pessoa, e o gênero relacionado a um órgão passa a ser uma “verdade” única: a pessoa é para o que nasce? Tá ok supor práticas e legitimar desigualdades e assimetrias flagrantes entre o binário de gênero? E o que dizer das pessoas intersexo cujas existências e corporeidade tantas vezes borraram as concepções do que se pode definir como um bebê ou uma bebê?
O pedido de desculpas
“Gente eu venho de uma comunidade, que lá, a gente brinca com as pessoas e muitas das vezes as pessoas não entendem nossa brincadeira. A nossa brincadeira é um pouco grossa sabe? E muitas vezes a gente acaba machucando as pessoas.(…) As vezes eu perco a noção, mas não é do meu coração que eu sou homofóbico, transfóbico, sabe? Não é isso. Luísa eu quero te pedir desculpas do fundo do meu coração, me perdoa, desculpa”.
O Morro do Borel é hoje uma comunidade, uma favela, localizada na zona norte do RJ no bairro da Tijuca. Historicamente, como muitas outras localidades brasileiras, enfrentou processos de realocação forçada, remoção, luta por terra urbana tendo em sua origem urbanística a favelização de camadas sociais pobres das cidades. Conta com quase 4 mil domicílios, quase 13 mil moradores. http://favelagrafia.com.br/borel
Levando em conta sua própria história de “superação individual” da precariedade por meio da música que produz hoje e seu trabalho como um todo, Nego ostenta uma vida de luxo com carros avaliados em mais de 300 mil reais, uma casa avaliada em 2 milhões. https://revistaquem.globo.com/Lifestyle/Casa-dos-Famosos/noticia/2017/03/nego-do-borel-abre-seu-lar-de-tres-andares.html
Nego já declarou que quer que a história de sua família sirva de exemplo para os moradores da comunidade de onde veio. https://revistaquem.globo.com/Capa/noticia/2018/03/nego-do-borel-ajoelhava-no-meu-chao-de-barro-e-pedia-deus-faca-com-que-eu-seja-famoso.html
Ainda que, no Brasil, a pobreza tenha uma cor de pele específica, atrelando racismo e precariedade econômica, o que Nego deseja às pessoas companheiras de comunidade é a transição de classe econômica. Aliás, é preciso citar – ainda que não seja o foco deste texto – que as posições de classe são mais instáveis que de outros marcadores, apesar da tendência da maioria num país tão minoritariamente rico. O que sublinha ainda mais a perversidade de um discurso frequentemente atrelado a biografias como a de Nego: a meritocracia delirante. Se o artista tem consciência de sua própria localização social e de todas as distintas condições que produzem assimetrias entre ele e as outras pessoas cuja origem é o mesmo Morro? Aí já é um outro assunto.
Se ele tem consciência do que produz seu comentário inofensivo, sua piadinha de mal gosto ao tratar uma mulher trans/travesti no masculino é uma coisa; outra coisa é se ele concorda que, para além de magoar Marilac, aprendeu que não se deve tratar pessoas que, independente de suas designações ao nascer, se reivindicam, vivem, são em alguma medida reconhecidas em suas vivências como mulheres, em sua complexa pluralidade. Pouco me importa se ele tem convicção disso, muito me importa que ele tenha conhecimento do que se produz a partir de suas práticas públicas. Pouco deveria importar para a sinistra ministra se ela tem convicção de que o lugar da mulher cis é na submissão (ainda que de maneira contraditória, ora ora veja só és, mulher e ministra) se em suas práticas, que constitucionalmente deveriam ser guiadas pela laicidade do estado, ela trabalhasse para garantir aborto seguro e gratuito para as mulheres que – independente de suas concepções pessoais – decidem interromper sua gravidez e recorrem, a depender de suas posições de classe, a métodos mais ou menos precários e seguros.
Então, quando eu digo que “pouco me importa se habitamos o imaginário do que é uma mulher para Nego” não significa que o imaginário social não está em disputa e não se deva disputar; porque rever-se é uma decisão individual, enquanto prática política diária no âmbito pessoal e sem representação pública coletiva. O que precisamos é convencer de que se pode ter sucesso na reconfiguração do que é uma brincadeira possível de ser feita. Mas como tantos outros assuntos na vida: o que é possível nem sempre é recomendável.
Mas a autorrevisão é uma decisão baseada num entendimento de algo maior que tanto nos antecede – a ponto de não ser possível admitir o caráter exclusivamente individual da transfobia – quanto, ao mesmo tempo, nos diz muito respeito – sendo portanto inadmissível que a gente se des-responsabilize na luta pela mudança dos paradigmas, estejam eles atrelados a qualquer das muitas fobias que nos fundam enquanto sociedade e nos atravessam enquanto prática cotidiana.
Se Nego decide se fechar na concepção de que foi mal interpretado, na armadilha da essencialização de sua comunidade de origem, é uma escolha dele. Uma resposta para uma crise pessoal, pessoa pública que se tornou. Curioso que, ainda que atribua suas brincadeiras brutas à sua origem no morro em seu pedido de desculpas, Nego do Borel dispõe de acessos pra lá de estáveis se comparados aos de seus “iguais de bairro”.
Partindo de seu pedido de perdão: se por um lado a origem social (‘gente eu venho de uma comunidade e lá se brinca muito com as pessoas”), para ele, justifica uma brincadeirinha ofensiva sem nenhuma sinalização escrita que o respaldasse (quem nunca colocou um “ehehe” um “rsrsrs” ou até mesmo “hahaha” pra indicar piadas na escrita internética?), por outro, parece não ter sido o suficiente para, em termos de classe social, tê-lo estabilizado.
Aqui se entrelaçam muitos outros fatores relativos ao direito à cidade, às questões urbanísticas e de acesso a saneamento básico, políticas urbanas de exclusão, escolhas equivocadas de políticas de segurança pública, falida “guerras às drogas”, acesso a educação, saúde. Tudo isso tornaria ainda mais complexa a análise e portanto este texto não pretende responder, mas colocar ainda mais perguntas, para assim talvez repensarmos nossas práticas. O mercado que se abriu para Nego, está disponível na mesma medida para artistas cujas identidades de gênero não é a de homem cisgênero? Quantas mulheres cis e negras têm os mesmos acessos que ele teve? Quantas mulheres trans e travestis negras têm a mesma possibilidade? E no entanto não é impeditivo para que suas produções possam ressoar nas redes ainda que com alcance menor às tecnologias do mercado fonográfico. Mc Dellacroix, Alice Guél, Ventura Profana mas certamente poderíamos chegar em uma vasta lista que fosse exemplo disso.
Vamos prestigiar o trabalho destas pessoas enquanto práticas políticas que são. Vamos ouvir suas músicas, dar visualizações e likes a seus trabalhos. A mim parece urgente no Brasil de hoje, em que toda a sorte de desigualdades ao que tudo indica, e não são poucos os indicativos, vai se acentuar ainda mais.
A partir do ocorrido neste episódio, a pretensão deste texto é refletir sobre questões que nos levem para além dos limites deste acontecimento em particular. Por exemplo, quais poderiam ser os efeitos de uma prática anti-transfobia se ela estivesse vinculada na mesma essencialização da pessoa que corrobora com transfobia e portanto a reproduz?
Denunciar a transfobia na elaboração de mundo dos outros e da nossa própria é importante, porém qual a contribuição em tornar, por meio dos nossos métodos políticos e dos enunciados e elaborações, a transfobia como parte da essência de alguém e assim, estabilizar no sujeito o preconceito? Na urgente necessidade de disputar o que é cortina de fumaça ou não do que é prioritário dentro do panorama de crises instauradas, onde fica a possibilidade de que cada pessoa deforme suas preconcepções problemáticas?
É uma decisão política inicialmente pessoal, essa de rever conteúdos, reconfigurar as lentes para se (trans)ver o mundo. E sabemos, enquanto militantes e ativistas, que somos crias da mesma matriz; não estamos numa nuvem do dropbox alheios ao que estrutura toda uma sociedade complexa na era das simplificações. Não estamos livres de nossos potenciais racistas, transfóbicos, classistas, gordofóbicos dentre tantos outros. E isto dialoga com o fato de que não deveríamos combater moralidade com mais moralidade como quando se essencializa uma pessoa na natureza de sua fobia externalizada.
Trata-se de um compromisso ético, de um acordo que estará sujeito a revisões, para algumas pessoas mais do que para outras. E o que seria de nós as pessoas trans e travestis, não fossem também as pessoas cis que, uma vez conscientes de suas potências e limitações, se levantam na luta anti-transfobia?
Publicamente achei ótimo que ele tenha se desculpado, ainda que tenha deixado escapar (e estamos todos correndo o mesmo risco, como eu, por exemplo, quando tento elaborar este texto) uma suposta estabilidade aqui outra acolá, como se LGBTfobia fosse “coisa de quem tem coração ruim”. Estou apostando no efeito coletivo de um pedido individual de desculpas, num enunciado que produz o que não deve ser tolerado fazer: ser transfóbico. Se ele tem convicção de sua retratação ou se o fez por pressão? Exclusivamente me interessam os efeitos das próprias desculpas. Marilac e outros fãs que lidem com isso.
A mim me lembrou um episódio que vivi há um tempo atrás, numa grande empresa em que, terceirizada e portanto explorada, comandei uma atividade de quatro horas de consultoria junto a um quadro de 40 funcionários de setores variados, conheci, dentre tantas outras pessoas, Daniel, o segurança e Maria, a faxineira dos banheiros. Estávamos debatendo a qual banheiro deveriam encaminhar uma travesti que, uma vez dentro do edifício, perguntasse pelo mesmo; masculino ou feminino?
Daniel, que em outra atividade tinha demonstrado convicção de que seu órgão sexual o fazia homem e o definia assim essencialmente, insistia em dizer que deveria ser o banheiro masculino o lugar apropriado para a fictícia frequentadora das dependências do espaço, a travesti fazer xixi. Ainda que outros questionamentos, apontamentos e argumentos sobretudo os meus a conduzir a atividade reflexiva não tivessem sido o suficiente para deformar as concepções pessoais de Daniel, um argumento bastou – o da política da empresa, que era, ali, naquele espaço, o mais pertinente a ser respeitado.
Ainda que, em seu foro íntimo, Daniel não entendesse a travesti como uma mulher e atrelasse sua suposta preocupação em possíveis práticas “sexuais” num banheiro com outras mulheres cis, o que era suficiente para que ele sustentasse seu argumento, a política da empresa se incidia com uma recomendação explícita: não queremos que, nas nossas dependências, alguém sofra preconceito. Então, se a travesti (ou qualquer outra pessoa cis) usasse o banheiro de maneira ‘imprevista’, que respondesse por isso. Uma vez representando a empresa, se uma travesti entrasse e perguntasse onde é o banheiro, ficamos acordados que uma chance seria dada sem pressupor práticas ‘pornográficas’ à identidade da pessoa. Daniel saiu dali entendendo o que seria melhor, inclusive para a continuidade de sua subsistência.
Já Maria, quando indagada a respeito de qual banheiro deveria indicar, respondeu prontamente, menos com aquele filtro característico de quem sabe o que responder para impressionar e mais com o atropelo de quem, em seus pensamentos, parece ter tido um estalo, um entendimento sobre o qual rapidamente queremos tornar público: EU VOU INDICAR O FEMININO UÉ. PRA QUÊ QUE EU VOU SUPOR QUE ELA VAI ENTRAR NO BANHEIRO PARA FICAR MOSTRANDO O PÊNIS DELA PARA AS OUTRAS PESSOAS?
Daniel não tinha convicção do que estávamos propondo. Teve seu pensamento formado em uma sociedade que hipersexualiza a gente, que explora os limites de gênero que a gente borra e desafia e que, portanto, em sua concepção pessoal inclusive de seu próprio pertencimento de gênero tornou plausível que defendesse o que defendeu. Possivelmente, se uma travesti entrar naquele prédio e perguntar onde é o banheiro, Daniel vai chamar a Maria para que ela indique. E que bom que seja assim. Maria entendeu tudo! Eu quero a Maria, eu escolho a Maria.
Comentários
3 respostas para “Qual imaginário disputamos?”
Inteligente e mais do que educativo: certeiro. Criticar um apontamento tão assertivamente não é para qualquer pessoa, ainda que isso tome muitas palavras.
É minha filha, homens são protegidos por instituições diferentes e por estruturas enraizadas na sociedade, e vai uma mulher e um(a) transsexual falar sobre alguns tipos de homens para voce ver, a turminha acha que é implicância e que voce está sendo egoísta, burguesa, insensível com o outro e outras coisas mais. O mea culpa deles(a) é esse, falam mal o dia inteiro sobre um tipo de homem, ai quando outros tipos fazem coisas erradas, ”temos que entender não sei o que…”, vem com desculpas de ”cultura regional” e sobre a criação educacional e moral ”normal” lá do bairro do sujeito.
[…] Fonte: Transfeminismo […]