Que visibilidade queremos? Qual a visibilidade dos homens trans (e outras pessoas dentro da trans masculinidade)?

Este texto faz parte da Blogagem Coletiva pelo dia da Visibilidade Trans*, uma colaboração entre os blogues Transfeminismo, Blogueiras Feministas, Blogueiras Negras e True Love.

Hoje, Jamal conta sua experiência enquanto pessoa trans* em um breve relato.

Por Jamal Panda 

De alguma forma eu consegui registrar alguns passos importantes da minha transição que se deu no meu ano de 2013, ano que de certa forma eu resignifiquei muitas questões da minha vida e organizei de uma forma diferente a percepção do que eu sou, como as pessoas me vem e na minha busca por ter a vida mais significativa pra mim mesmo. Me disse que era queer, multigênero, e mais um monte de coisa. 

Eu não paro de fluir, entre sensações de gênero, me sentir de uma forma ou de outra, de sentir afinidade com questões femininas (ou ditas femininas). Acho que as coisas dentro de mim nunca vai parar de se mexer e dançar.
Mas estão organizadas de uma forma diferente, eu sou homem trans. Todas minhas inconstâncias, sentimentos diversos estão dentro desde fato. Sou homem trans.

A visibilidade que eu quero é além das pessoas saberem que transexualidade existe, que homens trans existem e que sexualidade é diferente de gênero. A visibilidade que eu quero e preciso é pela despatologização das identidades trans, que as pessoas possam ter acesso a saúde sem constrangimentos, que tenham direito ao seu nome.

O acesso a saúde é muito reduzido, eu e a maioria das pessoas trans se hormonizam por conta. Sabem que vão encontrar mais transfobia no atendimento, vão reconhecer a transexualidade a pessoa se ela se enquadrar ou fingir se enquadrar perfeitamente num discurso patologizante.

Por exemplo, se a transexualidade é vista como doença então não se pode ter outra doença. Ou então te acusarem de não ~~sofrer o suficiente~~ com um desconforto presente com relação ao próprio corpo. Ser vistos o tempo todo como serem que merecem pena, que estão doentes, que nunca serão de verdade. Isso pra me parece muito estranho, já que minha busca sempre foi de ter a vida que fosse mais significativa pra mim e depois ter minha existência invalidada constantemente.

O CIStema produz diversos mecanismos que deixam nossas vidas invivivéis.

E todo dia a gente vai lutando, pelo direito de ser quem se é, pela responsabilidade de tornar a própria vida mais confortável e seguir lutando com outras pessoas pra que pelo menos entre a gente e nos espaços próximos a gente consiga se sentir bem, acolhido e respeitado.


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