Texto de Daniela Andrade.
Vi a entrevista da Roberta Close para o Amaury.
Quando perguntou se ela era transexual, ela disse que não, que era uma “mulher resignada”, que transexual era quem estava passando pela transição. Agora operada e com documento trocado é apenas mulher.
Pois bem, como ela se enxerga e como ela se expõe só diz respeito a ela mesma, ninguém tem que dar palpite.
Direito dela.
Agora, a parte final da entrevista em que ela diz que hoje em dia todo mundo quer ser LGBT e que na época dela era muito difícil, essa parte eu a corrigiria pois diz respeito aos outros, não é que todo mundo quer ser LGBT hoje em dia, mas sim que há mais possibilidades de se informar, de encontrar aliados e ter ajuda.
Achei o cúmulo Amaury perguntando como ficou depois da cirurgia, se ela tem orgasmo ou não.
Essa mulher deve estar respondendo essa mesma pergunta há mil anos.
Aí nos comentários o povo pra defender dizendo que ninguém pergunta isso para uma mulher heterossexual.
Entra ano, sai ano e esse povo não aprende que identidade de gênero é alho e orientação sexual bugalhos.
Se a mulher interessa-se exclusivamente por homens logo ela é hétero, independente de ser cis ou trans, logo Roberta é hétero também.
Agora, se ainda hoje em dia inclusive as próprias LGBTs fazem esse tipo de confusão (algumas vezes propositalmente), imagina alguém que vem de uma época em que ninguém falava sobre o assunto.
Respeito a pessoa da Roberta e o que ela significou para tantas pessoas trans no Brasil. Eu mesma, quando criança, a primeira pessoa que me deu esse clique de que eu não seria gay, foi a Roberta.
Ela abriu caminhos para todas nós, e me pareceu a entrevista toda uma pessoa bem reservada e que tentou ser bem respeitosa com os demais, dentro de suas imperfeições, por que não há ninguém perfeita.
Eu no lugar dela talvez responderia para esse Amaury: pelamordedeus vira o disco, estou desde a década de 80 respondendo exatamente a mesma pergunta sem noção.
Parece que a única preocupação na vida do povo ao saber que alguém é trans é com o genital.
Isso sem falar nessa gente baixa querendo inferiorizar Roberta, dizendo que é um homem, que nunca será mulher, que está feia e gorda e sei lá o que. Roberta linda, feliz, morando na Suíça com seu marido, viajando e esse povo penoso e sem luz achando que ela vai se importar para o que vomitam.
Aliás, só de Roberta estar suportando toda essa carga de preconceito desde aquela época já teria toda a minha admiração, pois continua sorrindo, apesar de tudo isso.