Texto de Leonarda Lisboa.
No decorrer da história, alguns grupos minoritários repetidamente são estereotipados como sendo uma ameaça a outras minorias. Por exemplo, judeus na Idade Média foram acusados de assassinar bebês cristãos em rituais de sacrifícios. Homens negros nos Estados Unidos eram frequentemente linchados após serem falsamente acusados de estuprar mulheres brancas. Donald Trump afirmando que mexicanos e latinos eram abusadores sexuais para convencer a população da importância da construção do Muro.
De uma maneira similar, pessoas LGBT têm sido retratadas como uma ameaça às crianças. Em 1977, quando Anita Bryant fez campanha para revogar uma lei do condado de Dade que proibia a discriminação anti-homossexual, ela nomeou sua organização como “Save Our Children” e avisou que “um professor (gay) particularmente desviante poderia molestar sexualmente crianças”.
Nos últimos anos, ativistas anti-LGBT rotineiramente afirmaram que LGBTs são molestadores de crianças. O estereótipo do professor abusador ainda assombra a mente da maioria dos pais, que acredita até hoje que professores gays, lésbicas, bissexuais e transgêneros seriam uma ameaça a seus filhos. (Inclusive eu me lembro de conversar, enquanto cursava o colegial – nem 15 anos atrás, com um antigo professor meu Cesar que ele tinha receio de descobrirem a orientação sexual dele e dos inúmeros problemas que ele já havia passado por conta disso).
Lembrando que também foi forçada essa conexão de LGBTs e pedofilia com escândalos sobre as tentativas da Igreja Católica de encobrir o abuso de jovens meninos por padres. De fato, a resposta inicial do Vaticano às revelações de cobertura generalizada de abusos sexuais por padres em 2002 foi declarar que homens gays não deveriam ser ordenados.
A coisa fica ainda mais complicada, se você pensar que a maioria dos abusos sexuais contra meninos foi por muitos anos classificada como “abuso homossexual”, e no entanto um painel de especialistas de pesquisadores reunidos pela National Academy of Sciences observou em um relatório de 1993: “A distinção entre molestadores homossexuais e heterossexuais de crianças baseia-se na premissa de que molestadores masculinos de vítimas masculinas são homossexuais em orientação. A maioria dos molestadores de meninos não denuncia interesse em homens adultos, no entanto.”
Além da sempre ressuscitada falsa bandeira do orgulho LGBTP (incluindo ‘pedosexuais’ como sendo parte da comunidade LGBT) – que foi ate divulgada pela família Bolsonaro juntamente as fake news da mamadeira de piroca, temos os trolls do fórum 4chan chegaram a criar uma bandeira do orgulho “Clovergender”(Gênero-Trevo), associando identidade de gênero com pedofilia ao inventar que a comunidade LGBT, em específico as pessoas trans, estariam apoiando o absurdo de um adulto se identificar como criança e poder portanto se relacionar com outras crianças. Com essa tentativa de atacar a comunidade LGBT, até hoje se divulgam em blogs, sites, no Twitter essa “brincadeira” inventada em fóruns de internet.
E então vemos na imagem, quem DIZ advogar pelo feminismo e contra a pedofilia, falar fazer uma análise materialista, para combater o “pós-modernismo”, e se propõe compreender que o abuso sexual ocorre por conta de uma estrutura cultural, política e econômica – e não por mero desejo sexual – tentar te convencer que mulheres transexuais são predadores sexuais, devem ter seus direitos conforme o gênero negados, pois possuem o mesmo genital(assim como homens gays também o possuem, viu?!) que a maioria dos abusadores sexuais.
Gritando que combater o patriarcado significa continuar a negar a realidade, e associar LGBTs a pedofilia, contrariando todos tipos de estudos e dados mostrando que grande maioria de abusadores sexuais de crianças, independente do gênero do menor, se colocam como sendo homens cisgeneros e heterossexuais, e a maioria dos abusos continuam sendo feitos por pais, avós, tios, vizinhos, primos…
Repetidamente existem esforços para ligar abuso sexual infantil a comunidade LGBT – que é discriminada justamente por não corresponder aos padrões sexuais e reprodutivos impostos pelo patriarcado e pelo capitalismo. Nesses esforços, nos são negados não apenas o nosso direito de sair do armário em locais de convivência e trabalho com crianças, mas também o direito de adoção, de frequentarmos banheiros e trocadores, de interagirmos e produzirmos conteúdo voltado ao público infantil e às vezes até convivermos em família com nossos sobrinhos, priminhos e etc.
Lutar contra o patriarcado é lutar contra esses estigmas, não reproduzí-los sem nenhum embasamento em nome de uma teoria de gênero que acredita que a emancipação feminina pode ocorrer ignorando a realidade e mantendo as mesmas estruturas que jogam uma minoria contra a outra.
Comentários
Uma resposta para “Sobre a (re)associação entre ser LGBT e pedofilia: agora com roupagem feminista “anti-gênero””
Que coisa impressionante! Eu tenho visto esses comentários fdp e, nunca que imaginei o quanto séria é essa acusação contra a comunidade LGBT, gente do céu! Claro que eu sei que é sério e indecente, só que eu não tinha pensado no patriarcado e no capitalismo como um tipo de co-produtores dessa maldade sem tamanho!
Bom, também, eu não sou pensadora intelectual, né!?
Curti muito o espaço, gente e, virei sempre aqui, conhecer e estudar mais estas questões tão sérias!