Por Raíssa Éris Grimm.
(sobre identidade de gênero – e a abolição do gênero enquanto tecnologia de dominação)
uma confusão que eu sempre vejo nos textos Rads:
tratar
“identidade de gênero”
como se fosse um projeto político do Transfeminismo –
e que, enquanto tal,
isso seria contraditório com a idéia de Abolir o gênero
enquanto tecnologia de dominação.
E aí tá um equívoco sobre o qual a gente pode falar:
“identidades de gênero”
não são um projeto político nosso,
não se tratam de um horizonte ou de uma utopia que a gente vislumbra –
identidade de gênero
são ferramentas (que implicam linguagem,processos de identificação) que funcionam pra gente se localizar no mundo.
Um dos horizontes políticos do Transfeminismo
é que as pessoas possam ter plena autonomia
pra entender, se expressar e se localizar
de acordo com a identidade de gênero que proporcione mais sentido pra cada pessoa.
E é sobre sermos respeitadas nesse processo.
E vejam bem:
isso não é contraditório,
de forma alguma,
com abolir o gênero
enquanto tecnologia de dominação.
Se a gente entende o gênero como algo que nos domina
e que deve ser abolido –
isso pode muito bem implicar
uma luta contra as formas coercitivas
desde as quais
identidades nos são impostas.
Nesse sentido, a gente fala em Transfeminismo como uma palavra conjunta
porque não vai existir auto-determinação pro gênero de ninguém
sem uma luta acirrada contra o patriarcado
(assim como contra a heterossexualidade compulsória).
Então veja:
lutar contra a coerção de gênero
caminha muito bem junto
com a auto-determinação das nossas identidades
(inclusive aquelas ligadas a gênero).
Diria ainda mais:
tratar uma travesti no masculino,
negar sua identidade
sua auto-determinação – Isso não tem nada a ver com abolir gênero
enquanto uma tecnologia de dominação.
Isso só reforça as tecnologias de dominação.
Quer dizer:
é o cisativsmo transfóbico,
e não o transfeminismo
que reforça estereótipos de gênero.
Pelo contrário,
o respeito às identidades de gênero
caminham junto
com destruir todas as formas de dominação
dentro da qual o gênero é um vetor de opressão.
Imagem: Orlandeli.