Texto de Sísifo Magnani Gatti.
Encontrei na abertura de ser homem trans a feminilidade. A possibilidade de me abraçar, de um modo sincero, nas coisas ditas femininas. Nessa atmosfera violenta que me envolve, me pergunto porque não e abraço o que sou, de ser o marginal do marginal, de ser um homem trans gay, um viadinho. Um viadinho que gosta de esmalte de glitter e de rosa.
A virilidade masculina é inatingível. Sei que ela me é a impossibilidade. Tanto não posso ser mulher quanto não posso ser uma pessoa …masculina(no sentido de postura). Não posso ser macho. Essa configuração é possível no campo da cisgeneridade. Ai fico excluído. Eu não existo. O meu choro não ecoa. Todas as vezes que falo sou interrompido. Me anulo nas possibilidades e acabo não sendo nada. Uma ideia vaga, um corpo estranho.
Já era viado antes de saber que era homem. Já era questionado antes de abraçar isso e falar: sou. Nesse ser guardo meus segredos. Meu silêncio é indagado, apesar de que nunca me ouviram. Meu corpo é meu, que pensa e sabe que na marginalidade não tem arrego, e que muitas vezes a mão que afaga é a mesma que bate. Então que me engulam S E N D O (não me “sentindo”) um homem trans não binário e viado. Viadinho. Bicha. Passivona. Dando a cara a tapa e guardando rancor de quem tem mãos fedendo a sangue e que dita um discurso lixo sobre o que é um homem e o que faz de um homem ser homem. Não me iludo, sei quem é quem. Sei quem cola. E tenho raiva. Mas a raiva é dO Sisifo. Com ela tenho as forças de empurrar as pedras da marginalidade.
com
esse loiro de farmácia
as minhas vaidades
o meu silêncio
os encontros com os love
meu esmalte de glitter
meu abismo.
eu, um vazio preenchido.
Imagem: Sísifo M. Gatti.