Texto de Alessandra Ramos Makkeda.
Eu, que penso na vida de milhares de pessoas negras e pessoas trans e travestis, de nosso Brasil, que sofrem racismo, transfobia, e que ainda são culpadas por isso. Vejam algumas das frases que nossos algozes usam contra nós tentando colocar a culpa do ódio deles em nós.
COMPLEXO DE INFERIORIDADE
SE FAZENDO DE VÍTIMA
PARANÓIA
TÁ CARENTE
ESQUECE ISSO
VOCE Ë QUE ESTÁ SENDO RACISTA
NÃO EXISTE ESSE NEGOCIO DE TRANS
VOCÊS SÃO MUITO ENCRENQUEIRAS
CISGENERO NÃO EXISTE
VOCÊS QUEREM PRIVILÉGIOS
VOCÊS QUEREM OBRIGAR A GENTE
Gostaria de ver as pessoas TRANS emancipadas – vê-las empoderadas de verdade, sem porta-voz, cada uma/um por si, lutando e conseguindo ser autônomo/as.
Somos pessoas trans, precisamos de tanta coisa. Precisamos gritar por nosso espaço, mas precisamos construir um mundo melhor para aquelas que virão.
Se meu método é normativo? Não sei.
Mas, eu acredito que é possível mudar as coisas. Por exemplo, a participação num Comitê que decidirá como a PreP (profilaxia pre-exposição) vai ser indicada para pessoas trans, por serem mais vulneráveis. Quem sabe, essa nova forma de prevenção reduza a prevalência de HIV/AIDS em pessoas trans (mais precisamente mulheres trans e travestis), que hoje é de 32,4%, comparando com somente 0,4% na população geral.
Outro exemplo: acredito que ter reuniões com a gestão participativa e com o gabinete geral do Ministério da Saúde para resolver o problema de pessoas trans que mudaram o seus documentos e não conseguem agendar pelo SisReg (sistema de marcação de consultas no SUS) uma consulta com urologista, proctologista (no caso de mulheres trans e travestis) e ginecologista (no caso de homens trans) – que hoje não são possíveis, por conta do modo como é idealizado o sistema, com a saúde do homem e saúde da mulher.
Acredito que monitorar o sistema internacional de direitos humanos e tensionar para que relatórios, grupos de trabalho, documentações, audiências e diligências, incluam demandas da população trans – como a audiência pública sobre a vida das mulheres trans negras, ocorrida em outubro de 2013, em Washington D.C., por exemplo.
Acredito que é possível mudar, fazer com que pessoas trans sejam realmente inseridas. Que deixem de ser tokenizadas, como são. Não ser objetos de uso barato.
Enfim, essas coisas não substituem a necessidade de continuar protestando, gritando, enfrentando, resistindo e fazendo pessoas trans e travestis visíveis, mas não às custas de fechar outros canais de comunicação.
Todas as pessoas trans são necessárias. Todas as travestis são necessárias na luta. São todas militantes, porque a cada momento que saímos na rua, estamos militando.
Somos pessoas e precisamos de respeito. A ceara é grande e os trabalhadores são poucos