Textos de Lana de Holanda.
Sendo bem explícita no que digo:
Eu não escondo meu pau. Eu sou mulher trans, não operada, e o pau faz parte do meu corpo.
Possuo pau, assim como possuo orelhas e umbigo.
Normalmente o cabelo tampa minhas orelhas e a blusa tampa meu umbigo, mas as vezes eles aparecem, dependendo de como está meu cabelo ou do tipo de blusa que estou usando.
Digo isso porque vi agora uma polêmica num post que falava sobre as mulheres trans precisarem ou não aquendar (esconder o pau). Incrível como tudo vira assunto e polêmica.
Algumas pessoas trans possuem uma disforia muito forte, e possuem maior dificuldade em lidar com determinadas partes do corpo, que podem ser interpretadas como masculinas ou femininas. Eu mesma possuo dificuldade em lidar com algumas partes minhas, mas o pau não é uma delas.
Existe mulher de pau, e existe homem de PPK. Algumas dessas pessoas querem mudar isso, outras não.
Portanto, sendo uma mulher de pau, e estando tranquila com isso até hoje, eu não vou escondê-lo. O que não significa que vou exibí-lo. Mas eu não vou me torturar (pois pra mim o exercício de aquendar é uma tortura, tanto física quando psicológica).
As pessoas olham pra mim, e acredito que pelas minhas feições, elas saibam muito bem qual é o meu órgão genital, então não vou fazer um truque que de nada adianta e de nada alivia o jeito como vão me interpretar e me tratar.
É claro que dependendo da roupa que eu uso tudo pode ficar mais camuflado ou mais evidente. E pra ficar mais confortável, eu até evito que algo fique evidente. Mas pra mim essa não é uma questão. Não estou andando pelada (apesar de querer, algumas vezes), então tudo bem.
Algumas pessoas cis, automaticamente batem o olho no meio das pernas da mulher trans ou da travesti, numa tentativa de descobrir o óbvio. Isso é de uma grosseria muito grande. Muito feio, muito rude. As pessoas que precisam parar de encarar as partes das outras. Não sou eu que tenho que passar a esconder algo natural. Tão natural quanto o volume que algumas pessoas com vagina também possuem, algumas vezes.
O que eu quero mudar no meu corpo, será mudado. No tempo certo. O que não me aflige vai continuar como está, livre e cheio de vida.
“Se mutilar não adianta de nada. O seu cromossomo nunca vai mudar!”
Esse era o comentário num dos meus recentes posts. Eu apaguei o comentário, que poderia ser ofensivo pras demais pessoas que tinham comentado, mas não bloqueei a pessoa. Espero que ela continue lendo o que eu escrevo, e quem sabe aprenda algo, algum dia.
Mas eu queria entender a tara que essas pessoas transfóbicas possuem com cromossos e DNAs. Antes elas se pautavam muito no que temos no meio das pernas, mas conforme nós temos ressignificado nossos corpos, afirmando que existe homem de boceta e mulher de pau, elas tem tentado buscar outras justificativas pra dizer que nós não somos o que somos.
É um erterno ciclo de pessoas cis querendo dizer o que são (ou não são) pessoas trans. É a eterna crença na superioridade dos cis pros trans, assim como já vimos dos brancos pros negros, do homem cis pra mulher cis, do hétero pro gay. Aquele que está dentro da normatividade social acha que pode ditar regras sobre a vida e a existência daquele que é visto como diferente. Uma eterna tentativa de colonização, só que sobre nossos corpos e identidades.
Eu não preciso de uma outra pessoa pra dizer quem eu sou, ou deixo de ser. Tampouco preciso de aulas de biologia. Tudo é mutável, inclusive questões biológicas. A homossexualidade era considerada doença até o início dos anos 90, depois deixou de ser. A biologia e a medicina foram usadas de diversas formas pra poder justificar o racismo e a escravidão do povo negro. O que é doente ou saudável, normal ou anormal…tudo isso é criado, perpetuado ou moldado pelo ser humano, de acordo com o que lhe convém em determinada época.
Portanto pode pegar o seu XX ou seu XY, e todo seu discurso biológico, e engoli-lo (pelo orifício que quiser). Primeiro vai procurar saber minimamente o que é identidade de gênero, só depois vem tentar comentar e rebater um post de uma pessoa trans.
Você tá preocupado com os cromossomos, e eu to preocupada com as pessoas que só querem viver e ser. Prioridades.