Hoje abrimos o dia, seguindo com a blogagem coletiva, com o texto de Mariana M. Ela nos mostra a interessante ferramenta “mapa da transfobia” do site T-Factor. Afinal, tomarmos consciência dos casos de transfobia (assim como denunciá-los) que acontecem no país é também questão de visibilidade.
Ter uma identidade que desvie dos discursos heteronormativos coloniais hegemônicos já é, por si só, algo perigoso, pois os beneficiários desses discursos possuem recursos para “corrigir” esses desvios com algum exercício de violência: insultos, comédia (a comédia que diminui o impacto do desvio e legitima a norma), a lesão física, o estupro, o gaslighting (nome da violência que tem por objetivo de fazer um indivíduo duvidar da própria memória e raciocínio), o assassinato e inúmeras outras maneiras “criativas” de se usar a violência em favor da norma.
Ser uma pessoa transgênero, travesti, transsexual, não-binária, gênero fluido, entre outras performances de gênero contra-hegemônicas, é uma experiência que passa invariavelmente pelo lidar com a violência externa. E do contrário que essa afirmação pareça conter, não se trata de vitimismo, mas algo bem diferente: Combatividade. É preciso, para existir, resistir às violências cometidas cotidianamente por familiares, amizades, estranhos na rua, médicos, psicólogos, burocratas e toda a sorte de indivíduos privilegiados por um sistema cis-normativo (um dos pilares da heteronormatividade compulsória), mesmo quando não há a intenção de agredir – embora, frequentemente, haja essa intenção. E essa resistência é pela visibilidade.
Tendo em vista esta realidade que permeia a vivência de todas essas pessoas desviantes do modelo hegemônico de performances de gênero – que dita uma linha reta entre genitália, gênero e desejo sexual –, o T-Factor, (http://tfactor.com.br) site dedicado ao combate à transfobia (sim, ela existe!) lançou recentemente na web o Mapa da Transfobia, ferramenta que faz uso da plataforma do Googlemaps.
Segundo notícias do blog vinculado ao site, a iniciativa pretende dar visibilidade aos casos de violência sofridas por essa população marginalizada pela sociedade, identificando locais, tipos de violência (com espaço para descrição do ocorrido) e as datas das ocorrências num mapa do Brasil. Mas, claro, alerta a equipe do T-Factor, a ferramenta não substitui a necessidade do registro da ocorrência nas delegacias – o que é particularmente um desafio, visto que as delegacias e batalhões são palco de várias violências à comunidade trans, principalmente se houver um recorte de classe.
No entanto, por mais animadora que possa parecer essa iniciativa, não podemos perder a consciência de que a necessidade de existir uma ferramenta de mapeamento de violência nunca é algo animador. Isto revela a gravidade da situação de vulnerabilidade na qual se encontra essa população que desvia das normas de performance de gênero em nosso país. Mas como ainda poucos veem, e muitos dos que veem não se importam, é preciso fazer visível.
Dessa forma, para que a sociedade não consiga fechar os olhos, como de costume, no próximo 29 de janeiro, Dia da Visibilidade Trans, será um dia de celebração da nossa visibilidade. Também será dia de luta, mas isso não é nada especial, pois, como prova o Mapa da Transfobia, para nós todo dia é dia de luta e todo espaço público ou privado é campo de batalha.
Confira o Mapa da Transfobia: http://tfactor.com.br/maparelatorio
26/01/2014
Mariana M.,
Coletivo Primavera nos Dentes Viçosa-MG