Texto de Marcela Aguiar.
A sociedade cisnormativa está acostumada a temer o vocábulo travesti, bem como a escrita e principalmente a fala. O medo de soar agressivo ou pejorativo ao chamar alguém desta forma tem relação com a banalização das subjetividades das travestilidades, do estigma da prostituição e das infinidades de promiscuidades e perversidades vinculadas às travestis.
De modo a transformar a travestilidade cotidiana, comecei a chamar amigas e amigos próximas(os) de travestis. Gritar por essas pessoas, na rua, assim. Pode parecer banal, mas consegui reparar a dificuldade que muitas(os) tinham de utilizar a palavra fora de um ambiente acadêmico e político, pois não existia uma familiaridade com o tema para além da abjeção.
O fato de ouvirmos “travesti” apenas nos espaços de produções teóricas e ativistas faz com que deixemos de enxergar a população de travestis fora da bolha da militância, fora do compilado sofrimentosuicídiohomicídio. É como se nós não tivéssemos especificidades, características próprias e individualidades; como se fôssemos marionetes a servir a hegemonia cisgênera em seus trabalhos acadêmicos.
Por isso, minha reivindicação gira em torno de enaltecer travestilidades. Transformar a palavra em elogio. Peço que utilizem, então, mesmo que pareça bobo, a palavra travesti no dia a dia de vocês. Utilizem de maneira positiva, direcionada a alguém que se tem carinho, na mesa do bar. E transmitam a mensagem que, por mais que não estejamos com vocês, nós somos presentes.