Texto de Leonarda Lisboa.
Vocês reconhecem essa autora?
“Eu sempre pensei que eu não me importo como uma pessoa se torna um homem ou uma mulher; isso é irrelevante para mim. É só parte de sua singularidade, do que a faz única, como qualquer outra pessoa. Qualquer pessoa que se identifica como uma mulher, quer ser uma mulher, ainda por ai sendo uma mulher, até onde eu saiba, é uma mulher.”
“Masculinidade e feminilidade – termos que se referem ao significado de gênero perante a sociedade mais do que a características biológicas em si – são reconhecidos como sendo uma série de comportamentos contínuos que se sobrepõem com muito mais variações do que homogeneidade. Uma vez que não existe relação entre esses comportamentos e a biologia, eles são na verdade ensinados e reforçados socialmente por um sistema de políticas sexuais. E isso então levanta a questão: se é tudo uma construção social, qual a necessidade de pessoas transgêneras de modificarem seus corpos biológicos para terem o gênero reconhecido? Essa é a verdadeira questão política, não estou questionando a decisão individual de uma pessoa e nem o direito dela de modificar seu corpo e ter autonomia sobre ele, coisa que na minha opinião nem precisaria ser justificado.”
“Para ser uma mulher a pessoa tem que viver o status de uma mulher. Na minha experiência, mulheres trans estão vivendo isso, experimentando e apresentando uma perspectiva valiosa para nós.”
“Enquanto a mídia pode discutir as implicações de termos hoje homens trans grávidos, eu vejo as pessoas trans sendo tao críticas aos papéis de gênero impostos quanto as pessoas não-trans, e certamente quando se trata de desafiar os papéis sexuais impostos institucionalmente as pessoas trans são uma chave jogada contra as engrenagens do patriarcado.
“Pessoas trans estão fazendo seu melhor para viver e serem amadas sob as condições nas quais as pessoas ainda acreditam firmemente na mentira de que gênero se baseia no ‘sexo biológico’, ou seja que ele é biologicamente determinado”
“Para mim, mulher é um grupo político. E eu sempre vi a discriminação contra pessoas trans como sendo uma forma da discriminação de gênero. “
“Como uma pessoa se torna uma mulher, na minha opinião, não é nosso trabalho policiar ainda que tudo nesse processo seja importante questionar e detalhadamente entender. Tendo vivido cercada de pessoas que ‘nasceram mulheres’ e não se identificam como mulher, que rejeitam o feminismo e dizem não ter nada a ver com eles, tem sido inspirador encontrar mulheres trans que se identificam como mulheres, ativamente se opoem e lutam contra todo tipo de violência contra as mulheres, e são fortes feministas.”
“Simone de Beauvoir disse que ninguém nasce mulher, torna-se mulher. E agora devemos nos importar em como aconteceu essa transformação, como se ser mulher fosse um grupinho seleto a ser defendido.”
“Eu encontrei inúmeras mulheres trans com excelentes e claros posicionamentos feministas. Muitas são o claro contraste as mulheres privilegiadas, com as quais eu geralmente me encontro cercada, que negam que exista hoje em dia uma opressão de gênero.(…) Eu encontrei mulheres trans que lutam apaixonadamente contra toda forma de opressão contra as mulheres, contra qualquer pessoa, trabalhando de forma real, para acabar com essas opressões. As mulheres trans que eu conheço sabem muito bem que a supremacia masculina é uma sistema político de opressão e se opõem a isso.”
Poderiam ser textos de uma escritora “queer”, mas são textos de Catharine A. MacKinnon, icônica feminista radical, advogada de direitos humanos, ativista.