Radfems, autoproclamadas feministas radicais, estão fazendo militância pesada contra a criminalização da transfobia (ver aqui e aqui). Da transfobia especificamente, porque elas se calam quanto a homofobia, dando a entender que são contra a criminalização apenas da transfobia. Acontece uma coisa… lutar para que a transfobia não seja criminalizada ajuda fortemente a luta para que a LGBTfobia não seja criminalizada. Neste aspecto os evangélicos fundamentalistas encontram nas feministas radicais uma força tática aliada.
O mesmo tipo de situação esdrúxula, embebida de sensacionalismo e pânico moral, é acionada tanto por radfems quanto por fundamentalistas para servirem de argumento contra a criminalização da LGBTfobia. Isso porque interrogar retoricamente que:
“Uma policial ser demitida ao recusar a fazer revista em um homem que se identifica mulher é transfobia?” tem o mesmo peso que:
“Um funcionário ser demitido ao se recusar a registrar um casamento homossexual é homofobia?”
Percebam que é o mesmo tipo de lógica, estão apelando para falsas liberdades individuais que supostamente estariam sendo violadas com a criminalização da LGBTfobia.
Não dá pra ser contra “apenas” a criminalização da transfobia. O pacote discursivo e argumentativo que vem junto não deixa mentir.
Desconfie de quem diz que a noção de transfobia é muito “vaga” e por isso seria capaz de silenciar previamente qualquer tipo de discussão ou objeção. Crime de transfobia não é você se sentir atraído sexualmente por determinado tipo de corpo. Ninguém será criminalizado em virtude de preferências sexuais com base na criminalização da transfobia. A quem interessa esse tipo de distorção absurda sobre o que significa transfobia? Quem determina o que é considerado vago?
Dizer que a noção de transfobia mobilizada pelos ativismos trans é “vaga” é ignorar a luta por sobrevivência de pessoas trans no país em que mais se mata pessoas trans do mundo e colocar em discussão a nossa própria idoneidade. Supor que toda noção de transfobia é vaga é cruel: ignora as reais necessidades que levam pessoas trans a nomearem os assassinatos e as exclusões sociais como transfobia. Para as pessoas trans, transfobia não é nada “vago” na vida prática e cotidiana. Tampouco é vago o significado do termo para nós.
Se transfobia for um conceito “vago” que merece ser descartado então a luta das pessoas trans que se mobiliza em torno da denúncia da transfobia é descartada por consequência. Porque a luta por sobrevivência de pessoas trans em sociedade não é nem um pouco indiferente ao uso da palavra TRANSFOBIA como forma de mobilização e crítica de violências de gênero específicas.
Apelar de forma sensacionalista para questões da precariedade no acesso a saúde é igualmente torpe. Estou falando aqui sobre sensacionalismo sobre atendimento médico a pessoas trans menores de idade, um acesso ainda tão precarizado e restrito no nosso país. Se as pessoas querem discutir ética médica e protocolo de atendimento devem se dirigir suas críticas ou objeções aos âmbitos competentes. Pressupor que a criminalização da transfobia impediria o avanço científico na área de cuidados médicos a pessoas sobretudo jovens e crianças é falso e profundamente desonesto. Não há nenhuma evidência de que a criminalização da transfobia acarretará qualquer tipo de mudança nas práticas médicas já vigentes em nosso país. Então a quem interessa a não criminalização da TRANSFOBIA?
Quem se diz contra a criminalização da LGBTfobia de alguma forma está assumindo que defende algum tipo de atitude preconceituosa.
Comentários
Uma resposta para “A quem interessa a não criminalização da transfobia?”
[…] A quem interessa a não criminalização da transfobia? […]